quinta-feira, 9 de agosto de 2007

O vento

- Anda ter comigo.
- Porquê?
- Porque te peço.
- Beija-me.
- Não. Acaricio-te, apenas.
- Deixas-me mais parvo do que na verdade já sou.
- Isso é porque te amo. Mas também porque já não somos nada um para o outro.
- Nunca fomos.
- Mas fingimos bem. Repara no vento.
- Onde?
- Naquela tempestade que se aproxima.
- É assustadora e bela. Tem significado e concretização.
- Foi onde perdi o meu coração. À procura do vento.
- Entretanto desvanecemo-nos.
- Um no outro.
- Um para o outro.
- Só restou o que não quiseste chamar amor.
- O que te limitaste a tratar como paixão.
- Nunca soube perder-me na bonança.
- Não a tens dentro de ti.
- Morro dentro de mim. Por isso vivo fora. Por isso vivi em ti.
- Sou única, no vulgar.
- És como a flor que implora para ser admirada antes de secar.
- Olharias por pétalas que secassem?
- Não as deixaria secar.
- Desce comigo à praia. O céu está cinzento e a areia húmida entranha-se nos nossos sonhos.
- Onde reencontrarei a minha alma?
- Aqui. No interior do momento.

1 comentário:

Anónimo disse...

Paixão como estado irrequieto de exploração do outro ou de existência fora do próprio, amor como estado sensível de acolhimento do outro dentro do próprio? Gostei, acho que levanta questões. (Catarina)